Notas de reais

O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil teve uma variação positiva de 0,1% no terceiro trimestre de 2023, quando comparado aos três meses anteriores. Os dados foram divulgados nesta terça-feira (5/12) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O desempenho ficou acima do esperado pelo mercado financeiro. Afinal, a agência Bloomberg previa uma contração de 0,3% na economia brasileira, levando em conta a mediana das estimativas. Já o Valor Data indicava uma queda de 0,2%.

O resultado gerou reações mistas do mercado. Por exemplo, as previsões de um PIB de 3% em 2023 se tornaram mais realistas. Por outro lado, segue a expectativa de desaceleração da economia no próximo ano.

Consumo em alta, investimento em queda

O principal fator a contribuir para o resultado positivo do PIB foi o consumo das famílias. Afinal, ele cresceu 1,1% no trimestre, levando em conta o ajuste sazonal, após um avanço de 0,9% no período anterior. Segundo o relatório do IBGE, isso se deveu à melhora do mercado de trabalho e ao estímulo gerado pelos auxílios do governo.

Também terminaram em alta no trimestre os indicadores de consumo do governo (0,5%), indústria (0,6%) e serviços (0,6%). Os destaques, nesses casos, foram os setores de energia, água e saneamento, serviços financeiros, atividades imobiliárias, informação e comunicação.

Por outro lado, a construção caiu 3,8% no trimestre, ainda sob o impacto dos juros elevados e a consequente restrição ao crédito nesse mercado.

Já a agropecuária teve uma queda de 3,3%. A principal razão para isso é o fim da safra da soja, que havia sido a maior responsável pelo resultado positivo no segundo trimestre deste ano. No entanto, a balança comercial manteve seu desempenho positivo, com aumento das exportações e queda das importações.

Por fim, cabe destacar o principal foco de preocupação dos analistas: os investimentos. No trimestre, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) recuou 2,5% na comparação com os três meses anteriores. Além disso, tanto a taxa de investimento quanto a taxa de poupança caíram em relação ao terceiro trimestre de 2022.

Dados apontam para alta do PIB próxima de 3% em 2023

Um dos principais desdobramentos da divulgação dos dados foi o de reforçar a expectativa de um crescimento do PIB próximo de 3% este ano. Afinal, muitos analistas do mercado financeiro já estavam pessimistas com essa possibilidade, que tem sido ventilada há alguns meses pelo Ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

O governo federal comemorou o resultado acima do esperado. O próprio presidente repercutiu no X (antigo Twitter) o otimismo de Haddad em relação ao PIB:

A Ministra do Planejamento, Simone Tebet, foi na mesma direção. Em seu perfil no X, ela alegou que o PIB pode crescer 3,1% caso fique estável no último trimestre do ano.

As projeções do governo estão próximas das do mercado, atualmente. Enquanto o Itaú manteve sua projeção de alta de 2,9% no PIB em 2023, o Santander revisou a previsão anterior de 2,5% para 3,0%.

Agora, a expectativa fica em relação ao próximo Boletim Focus. Afinal, no relatório divulgado na última segunda-feira (4/12), a previsão era de 2,84% para 2023. No entanto, esse dado ainda levava em conta a previsão de uma leve queda no PIB do terceiro trimestre, o que acabou não se confirmando.

Estímulos fiscais em pauta

Apesar do resultado melhor que o esperado para o PIB do terceiro trimestre, o país deve enfrentar desafios consideráveis para crescer no próximo ano. O quarto recuo consecutivo dos investimentos serve como alerta nesse sentido. Afinal, aponta para um potencial reduzido da indústria nacional de atender à demanda doméstica.

A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) divulgou uma análise dos dados em que aponta para um cenário de desaceleração da atividade no segundo semestre de 2023. Apesar de destacar o resultado melhor que o esperado, a entidade destacou o fim do impacto dos estímulos do governo na primeira metade do ano.

A alta registrada pelo setor de serviços no 3º trimestre foi menor do que a registrada no 2º trimestre, quando avançou 1,0%. Este desempenho pode indicar o início do esgotamento dos impulsos positivos que favoreceram o setor no período pós-pandêmico. A ausência de novos estímulos fiscais na segunda metade do ano também contribuiu para esta trajetória. O cenário mais provável é que a principal parte do impulso fiscal do ano já tenha sido absorvida.

Segundo a entidade, o avanço no terceiro trimestre não deve reverter o fraco dinamismo da indústria no ano. O principal vilão, neste caso, seria o Banco Central (BC). Os juros já começaram a cair em agosto e devem seguir nessa trajetória nos próximos meses. No entanto, a FIESP ressalta que “a política monetária ainda se encontra em terreno contracionista”.

A entidade espera um efeito positivo dessa queda dos juros, mas isso não deve ocorrer imediatamente. Por isso, ainda tem a expectativa de uma atuação mais ativa do governo federal em relação a outros gargalos da economia.

Recentemente, a FIESP criticou o veto do presidente Lula ao prolongamento da desoneração da folha em 17 setores da economia. Em nota publicada em seu site, a entidade afirma que isso deve ter um efeito negativo sobre as contratações das empresas para 2024. No entanto, ainda é possível que o veto seja derrubado pelo Congresso.

O que esperar da economia brasileira em 2024

Apesar da surpreendente variação positiva de 0,1% no PIB brasileiro no terceiro trimestre de 2023, a perspectiva ainda é de desaceleração. Os dados divulgados pelo IBGE superaram as expectativas do mercado, que previa uma contração, mas ainda assim, a expectativa para 2024 não é das melhores.

A projeção oficial do governo ainda é de um crescimento de 2,2% em 2024. No entanto, fica abaixo de 2,0% quando levamos em conta as principais estimativas do mercado. Por exemplo, no último Boletim Focus, estava em 1,5%. Já o Itaú tem expectativas um pouco melhores, com previsão de uma expansão de 1,8% no PIB.

O contínuo declínio no investimento privado doméstico pode pressionar o governo por novos estímulos fiscais. Aliás, isso já está em pauta quando se fala em destinar mais recursos para o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Ao mesmo tempo, Lula e seus ministros têm buscado vender a imagem do Brasil como um destino de investimentos verdes por parte de outros países.

Já a discussão sobre a situação fiscal continua intensa. Isso porque o mercado duvida da capacidade do governo de zerar o déficit já em 2024. Com a pressão sobre a equipe econômica por parte de outros setores do governo federal, essa meta parece cada vez mais distante.

Haddad e outros integrantes da área econômica têm repassado boa parte dessa pressão para o BC. Afinal, uma queda mais acelerada dos juros pode contribuir para o aquecimento da economia. Além disso, o governo segue monitorando o cenário internacional complicado, com os principais países ainda procurando se recuperar da crise recente.

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