Inteligência Artificial Portugal

A inteligência artificial (IA) está a marcar passo em Portugal. De acordo com dados recentes do INE, já são quase 8% as empresas portuguesas que se servem desta tecnologia. O crescimento é de mais 0,7% relativamente a 2021, e representa uma aceleração modesta, mas ainda assim significativa.

Segundo o inquérito do INE, as ferramentas de IA mais utilizadas foram as que: “identificam objetos ou pessoas através de imagens e que automatizam diferentes fluxos de trabalho ou auxiliam na tomada de decisão”.

Em que situações a IA é mais utilizada em Portugal?

Ainda segundo o inquérito desenvolvido pelo INE, parece que as empresas com mais trabalhadores são as que mais beneficiam e usam a Inteligência Artificial. Isso explica-se pelas necessidades de automação de tarefas, que se tornam tão mais importantes quanto mais escalável for essa automação. Ou seja, quantos mais empregados houver, mais sentido fará aplicar a Inteligência Artificial em vários tipos de funções.

Os dados do INE vertidos para um relatório de resultados indicam o seguinte:

  • “Esta proporção aumenta com o escalão de pessoal ao serviço, destacando-se as empresas com 250 ou mais pessoas ao serviço, com 35,4%, seguido das de 50 a 249 pessoas (16,4%), e por último as empresas com 10 a 49 pessoas ao serviço (5,8%)””.

Se a primeira abordagem à Inteligência artificial é a de automatizar processos logísticos ou administrativos, também estão a ser feitos outros usos mais criativos e que fazem parte do core de alguns negócios. Vejamos alguns exemplos revelados pelo inquérito do INE.

Tipo de utilizações de IA feitas em empregas portuguesas

Em Portugal, as empresas que implementam inteligência artificial servem-se maioritariamente de serviços de identificação de objetivos e pessoas através de imagens (44,7%).

Este número avassalador de um dos tipos de utilização mais significativos de Inteligência Artificial significa que tudo o que sejam circuitos de vigilância e de rastreamento, por exemplo de controlo de recursos humanos mas também de cadeias logísticas (entrega de encomendas), são atividades privilegiadas desta tecnologia.

O inquérito do INE também destaca a implementação desta tecnologia para efeitos de automatização de fluxos de trabalho e para a tomada de decisão no trabalho (40.8%). Ou seja, no contacto com o cliente via ferramentas de CRM, em aplicações TFS no âmbito de arquiteturas tecnológicas, ou em aplicações particulares de chat e de reconhecimento de tarefas rotineiras no computador.

Um pouco atrás vem a Inteligência Artificial aplicada a análise de linguagem escrita, para trabalhos de tradução ou interpretariado, mas também em copywriting e marketing digital (35%). E as tecnologias de aprendizagem automática de máquinas e algoritmos para efeitos de machine learning (26,2%).

Que tipo de tecnologias são menos usadas com IA?

Outro tipo de tecnologias IA parece ser ainda de utilização residual em Portugal. Por exemplo, no caso da tecnologia de IA para fazer a gestão automática de movimentação autónoma de máquinas ou de controlo de processos do meio envolvente, só 8,3% das empresas aplicam estes serviços. Ainda assim, ele é mais representativo no setor da indústria e energia, onde 15,3% das empresas a aplicam.

Outros dados do INE sobre a digitalização das empresas

Como vimos pelos dados deste inquérito do INE, a utilização de inteligência artificial nas empresas portuguesas ainda é algo residual. Porém, isso não significa que o tecido empresarial português seja maioritariamente tradicionalista ou antiquado, antes que as empresas decidem dar passos curtos e bem testados antes de implementarem tecnologia inovadora que está ainda em pleno desenvolvimento e maturação.

Há dados ainda assim que surpreendem. Por exemplo, o inquérito de 2023 concluiu que 62,4% das empresas portuguesas têm website próprio, o que parece ficar aquém das expectativas. Numa altura em que um website e redes sociais são cartões de visita imprescindíveis para qualquer negócio, fica difícil perceber porque não temos ainda uma cobertura generalizada de empresas a servirem -se de website.

Vejamos ainda o seguinte:

  • 49% das empresas portuguesas disponibilizam conteúdos sobre a sua atividade online em pelo menos dois idiomas (habitualmente o português e inglês).
  • 99,.1% das empresas tem atividade em pelo menos uma rede social.
  • 61,1% já usaram meios digitais de comunicação (newsletters, email, redes sociais, entre outros).
  • As vendas online representaram 19% do total de volume de negócios das empresas portuguesas.

Quais os dados do crescimento do comércio online entre os portugueses?

O INE também lançou um inquérito sobre a utilização de meios digitais pelas famílias portuguesas, com um enfoque especial no tipo de utilização feita em termos de comércio online. Segundo se concluía, pelo menos metade dos inquiridos entre os 16 anos e 74 anos já realizaram compras pela internet. Isso inclui compras através de redes sociais, em marketplaces como o OLX, ou diretamente no website de comerciantes.

Além disso, o comércio online parece estar a aumentar progressivamente ao longo dos anos. Mais 7% em 2020 face ao ano anterior, mais 5,2% em 2021, e agora mais 1,2%. Este tipo de utilização, que se justifica pelas necessidades e oportunidades criadas durante a pandemia em 2021, está de mãos dadas com a baixa de custos no acesso à internet de banda larga, que cresceu 85,8%.

Lembramos que a Nowo era até aqui a prestadora de serviços de internet mais barata, mas a Digi vai também entrar no mercado português e aplicar um conjunto de preços muito baixos que reduzirá ainda mais os custos. Além disso, o governo português aprovou o acesso a internet subsidiada e de baixo custo, o que ampliou ainda mais a cobertura à rede no espaço nacional.

Como funciona a tarifa social de internet em Portugal e como ela permitiu um número recorde de novos utilizadores ligados?

A Tarifa Social de Internet foi uma medida implementada pelo governo português de António Costa em 2022, permitindo a todas as famílias de baixos rendimentos terem acesso facilitado e subsidiado à web.

Todos os operadores de telecomunicações em Portugal passaram assim a ser obrigados a fornecer esta tarifa social para clientes que tenham comprovadamente baixos rendimentos. E isso abarca os prestadores Nowo, NOS, MEO, Prodevice e a Vodafone. É a ANACOM que controla a regularidade destas iniciativas.

Para os clientes beneficiarem de tarifa social de internet, que se aplica a a serviços de internet de banda larga, fixa ou móvel, os clientes só precisam de submeter um formulário de pedido junto de qualquer prestador. O pedido é depois encaminhado para a ANACOM que confere o cumprimento do requisito e confirma o acesso à tarifa social.

Requisitos de acesso à Tarifa Social de Internet

A tarifa social de internet é oferecida para todo o país, e os agregados familiares elegíveis são os que cumpram com pelo menos um destes requisitos:

  • Tenham pensão social de velhice ou complemento solidário para idosos.
  • Tenham subsídio de desemprego.
  • Tenham pensão social de invalidez do regime especial ou do complemento da prestação social para inclusão.
  • Tenham rendimento social de inserção.
  • Tenham abono de família.
  • Quem tenha rendimento anual igual ou inferior a 5.808 euros.

E qual o valor e as condições da tarifa social de internet? Ela tem uma mensalidade de 5 euros mais IVA e inclui um mínimo de 15 GB de dados or mês. Sendo que as velocidades de download e upload mínimas são de 12 MBps e de 2 MBps.

Como vemos, dificilmente estas famílias contribuirão para o melhoramento dos dados do comércio eletrónico em Portugal, dado o seu baixo nível de rendimentos. Ainda assim, esta medida é um fator importante de inclusão e que, a prazo, poderá ter efeitos benéficos no ecossistema digital em Portugal.

Como se compara Portugal com a Europa em comércio eletrónico?

Portugal tem vindo a dar passos importantes no sentido de desenvolver o comércio eletrónico e as suas atividades profissionais e corporativas baseadas em tecnologia de ponta. Ainda assim, Portugal continua abaixo da média europeia no que respeita a comércio eletrónico. Em 2022, 56,1% dos europeus faziam compras online, o que compara com os 42,7% da população portuguesa.

O INE conseguiu ainda apurar quais as áreas do país onde a utilização de comércio eletrónico é mais elevado. A Área Metropolitana de Lisboa reúne 51,1% da população que faz compras online, e o Algarve 44,9%. Depois vem a região centro com 43,8% e o Alentejo com 43,7%.

Quais os grupos etários que mais usam a internet para compras?

Nesta rúbrica de estudo do INE não há surpresas. Os grupos que mais usam a internet para compras online são os seguintes:

  • Entre os 25 e os 34 anos – utilização de 75,2%.
  • Os utilizadores com ensino superior concluído – utilização de 68,3%.
  • Entre os que se encontram a trabalhar – até 62%.

Depois, no que toca ao tipo de compras efetuadas, são os produtos físicos que mais são comprados pela internet (97,5%). Ainda assim, está a acrescer a aquisição de serviços, que já atinge os 69,8% este ano (era de 47,8%). O setor do gaming dará o seu contributo decisivo para este incremento, com serviços como o Steam a serem decisivos para o aumento de compras de serviços (incluindo em IA) / jogos.

O que dizem os dados do INE sobre a tecnologia em Portugal?

Estes dados do INE revelam que Portugal está a fazer um bom caminho no sentido de confiar e adotar progressivamente mais tecnologias. O tecido empresarial e económico português já conta com vários meios digitais e tecnológicos para processos de desmaterialização, digitalização, automação e comunicação. E os consumidores confiam cada vez mais nos suportes digitais para realizarem compras e contribuírem para o setor do comércio online.

Ainda assim, há um longo caminho a percorrer no que respeita à adoção e desenvolvimento de tecnologia de ponta como a IA. Portugal está habituado a ser o país da “cauda da Europa”, mas tem dado sinais de que quer arrepiar caminho, e os bons sinais na adoção de Inteligência Artificial em sistemas logísticos fazem antever um futuro um pouco mais promissor para o nosso tecido empresarial.

Notícias relacionadas: